segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Profissionais ou não...


Hoje me deu vontade de escrever um pouco sobre o profissionalismo (e a falta dele).
Acho que por tudo que eu tenho vivido nos últimos dias.

Quem sou eu pra julgar o meu próprio trabalho, mas o retorno tem me agradado muito, muita gente procurando, muita gente elogiando, e o crescimento e o feedback tem sido instantâneo. Eu tenho sorte de ter um grande exemplo do meu lado, que vem de quase 50 anos atrás, (obrigada, papai e vovô). E tenho na minha cabeça que tenho sempre o que aprender, e tento sempre sugar o máximo o conhecimento das pessoas. Eu NUNCA sei demais, eu nunca sou boa o suficiente. E pra quem faz trabalho independente, tenha saco pra esperar sua vez.

Alguns dizem que oportunidade é questão de sorte. Eu não acho.
Acho que antes de ter um bom equipamento, um fotógrafo precisa ter olhar, humildade, simpatia, força de vontade, e por último, e não menos importante, paciência. O que vai fazer o trabalho do cidadão, não é o investimento que ele vai fazer em equipamento, lentes, câmera, filtros, flashes. Investimento em curso é legal, em tempo, investimento no próprio trabalho, trabalhar de graça, fazer o cartão de visita, ouvir o que as pessoas têm a dizer, aproveitar a oportunidade quando um amigo seu 'popstar' quiser tirar fotos. Pô, vai encher seu portifólio, vai praticar, pra poder dizer e mostrar pra alguém que você já fez aquilo antes (e BEM), e que você pode cobrar por isso!

E além de tudo, não é vantagem nenhuma cobrar uma nota em um ensaio (que vc nunca fez antes!), e gastar 600 clicks do seu obturador, pelo simples fato de que na sua cabeça, "eu nunca fiz isso antes, e preciso de um mínimo de fotos boas pra poder dar pro cara que tá me pagando! Então vâmo na sorte, quanto mais fotos, mais chances de fotos boas". NÃO!!!! Pense na situação de quando os fotógrafos eram bons (sim, hoje eles não são. nós não somos!), eram contratados pra fotografar um casamento e levavam 4 filmes de 36. E pare pra pensar, se o cara perdesse a cena da troca de alianças, o trabalho dele não valeria de nada! Então o fotógrafo antigamente tinha que ser BOM, ter olhar, e esperava a hora certa pra fazer o click. Só porque hoje contamos com o Digital, vamos nos acomodar com isso e clicar na sorte?

Eu cheguei a fazer 500 clicks em um show que contava com 3 bandas diferentes. cerca de 4 horas de show, ou mais. Achei MUITO!
O último ensaio que fiz (João Bustamante/Código B), fiz 250 clicks, sendo que deles, 60 eu aproveitei, e das 60, só 10 eu não gostei de verdade, e ele também.
Tenho dito que ainda acho isso foto pra caramba! Pretendo reduzir muito...


Porque, sinceramente... falta vontade nessa galera de hoje, que acha que só porque tem um equipamento na mão, é fotografo profissional e pode saír metendo a faca nas pessoas.
falta interesse, e os fotografos da atualidade são poucos, muito poucos. O resto é menino com 'Máquina' na mão, brincando de tirar 'retrato'.

Eu não sei demais, mas tento aprender de todos os lados.
E doa a quem doer, essa é a verdade.

Abraços,


Paula Mordente (www.flickr.com/paulamordente)

5 comentários:

Rapha Garcia disse...

O negócio não é você se cobrar por quantos clicks está fazendo ou achar que 250 clicks é muito, se você diz que só gostou de 50. Isso é o mesmo que dizer que pra cada 5 fotos que você tirou, você aproveitou uma!

Acho que a questão principal é o aproveitamento das fotos que você faz, e não a quantidade de clicks que você dá.

E pra melhorar este aproveitamento, só estudando bastante teoria e torrando click mesmo, e levantando a mão pro céu que a nossa geração pode usufruir de uma câmera digital com milhares e milhares de clicks e fotos pra poder praticar!

Pense que a tecnologia está aí ao seu favor. Se você está fotografando com uma câmera digital, deve-se aproveitar todos os recursos que ela te proporciona, e não querer se regrar pensando que "se eu estivesse usando uma câmera analógica..." porque você NÃO ESTÁ!

Pode perguntar para os principais fotógrafos que usam a tecnologia digital hoje em dia (e eles, definitivamente, não são "piores" que os que usam filme), quantas fotos eles fazem em ensaios para selecioná-las depois. São gigas e gigas de fotos. A única questão é que o aproveitamento deles é infinitamente maior do que o nosso.

Bom, eu passei aqui pra deixar minha opinião sobre o assunto e poder esquentar mais essa discussão sobre a parte final do seu post. A questão de "meter a faca" ou "a falta de interesse" fica pra uma outra oportunidade.

Abraços,

Raphael Garcia (www.flickr.com/r_garcia)

Paula Mordente disse...

Acho que você me interpretou errado. Os gigas e gigas de foto, são toleráveis, o que não são, são gigas e gigas de fotos chutadas na sorte, e não aproveitadas, por insegurança do fotógrafo.

A intenção foi realmente falar do aproveitamento. Isso não muda o fato de que os fotógrafos de antigamente aproveitavam muito mais as fotos, eles aproveitavam o momento e não clicavam por clicar, porque não tinham os mesmos recursos que nós temos. A galera se acomoda e não usa o olhar com tanta sensibilidade.

Sou completamente a favor do 'praticar', acho que os 'muitos clicks' que temos à nossa disposição, tão aí pra gente poder explorar, tanto que tenho fotografado de graça pra caramba por aí, porque acho que preciso de material (de qualidade!!!). Pra isso, só clicando. Eu só não acho válido os fotógrafos de hoje acharem que tem que cobrar pelo click que faz (exatamente como você disse). Conheço muita gente que perde oportunidade de fotografar algo legal por não estar recebendo por isso. Mesmo sem nunca ter feito aquele tipo de trabalho (ensaio, por ex.). Prefere cobrar logo na primeira pra aproveitar a oportunidade que pintou de tirar uma graninha, e fazer o trabalho no escuro, fazendo fotos dobradas, disparando o dedo no botão, do que ter o cartão de visita em mãos e total convicção daquilo que está fazendo.


Não condeno 1000 clicks, condeno os 1000 clicks que o cara cobrou pra deles aproveitar só 15. Se o combinado foi de entregar 15 fotos, quanto menos clicks o cara fizer, melhor será o aproveitamento. O raciocínio só foi inverso. A variável no caso da minha lógica, são os clicks, e não as fotos aproveitadas.

Rapha Garcia disse...

Acho que eu não te interpretei errado. Acho que, nesse caso, a gente cai naquela dúvida: foram cliques por "insegurança" ou por "incompetência"? E lê-se incompetência, não no sentido pejorativo da palavra, mas sim no sentido etimológico, ou seja a não-competência da pessoa por estar começando a praticar, estudar e tudo mais.

Em relação a cobrar por "click" acredito que isso não exista, a menos que você se garanta demais, e esteja usando uma câmera analógica.

Quanto a cobrar o serviço "por quantidade de fotos", isso é uma coisa que eu não gosto. O cara que cobra por fotos, pra mim, tá perdendo dinheiro demais. Eu, particularmente, não sou profissional, não tenho nível de profissional AINDA e em virtude disso, cobrar por quantidade de fotos, definitivamente, ASSUSTA a maioria das pessoas que vão contratar meu serviço (lembrando que nenhuma "Playboy" ou "National Geographic" vão me contratar para fotografar).

Prefiro cobrar pelo show, evento ou pelo serviço em si, englobando todos os meus gastos e investimentos futuros, e não limitando a quantidade de fotos.

Isso deixa o cliente muito mais à vontade e não o assusta na hora que você fala "bom, vou te cobrar X reais pra você levar X fotos". E as outras fotos que você tirou, e que COM CERTEZA ficaram boas (devido àquele esquema do aproveitamento que eu tinha dito no comentário anterior)? O quê você vai fazer com elas? Vai guardar no fundo do seu HD?

É muito melhor cobrar (até mais, se bobear) pelo serviço em si e dar todas as fotos que são aproveitáveis pro seu cliente, do que limitar a quantidade de fotos. Você vai ter o mesmo trabalho ao fotografar, um pouco mais de trabalho para tratar (que você compensa na hora de fazer o orçamento), ganha mais com o serviço e ainda por cima vai agradar muito mais o cliente do que se você "amarrar" as fotos do próprio cara, com certeza.

Mas voltando ao assunto dos clicks, eu acho o seguinte: não importa muito se o clique é na sorte ou pensado, desde que o resultado final agrade a quem fotografou. E eu posso dizer, sem medo de errar, que a proporção entre "sorte" e "técnica" é 50%-50%. LÓGICO que o olhar fotográfico e a técnica dita essa regra, mas a sorte e a técnica ficam pau a pau na hora de clicar.

Rapha Garcia disse...

Pra complementar meu comentário sobre essa questão de "cobrança de serviço fotográfico", só um exemplo prático, no qual até eu fiquei assustado:

Como você bem sabe, eu formei no ano passado e paguei o serviço fotográfico da Phocus 4. Foram 200 e poucos reais (pra cada formando). E isso me dava o direito de escolher 5 fotos dentre as zilhares de fotos que eles tiraram. Sem brincadeira. Deviam ter mais de 5 envelopes pardos gigantes, absolutamente lotados de contatos (fotinhos impressas num papel fotográfico para escolher), com infinitas fotos de cada formando.

Cheguei lá e escolhi as 5 fotos. Para levar mais fotos, eu precisava de pagar mais 20 reais PRA CADA FOTO. Eu, como não trabalho com cheques, não levei mais do que as 5 fotos.

Aí eu te pergunto duas coisas:

1- o que é que eles vão fazer com as outras zilhares de fotos que eles tiraram de cada um? Guardar num HD para sempre? Deletar? Comer com farinha?

2- não seria melhor eles cobrarem um "adicional de 100 reais" no preço inicial de 200 e poucos reais para o formando levar TODAS as fotos, mesmo que fosse num CD? E isso não ia dar NENHUM trabalho para eles, já que eles tem todas as fotos já divididas por formando. Era tudo uma questão de pequena alteração no fluxo de trabalho. 100 reais X 100 formandos = DEZ MIL REAIS de lucro, por formatura, que eles não ganham por orgulho.

Pensa nisso...

Paula Mordente disse...

Eu concordo com absolutamente tudo o que você falou sobre a forma de cobrar. Tanto é que os dois últimos ensaios que eu fiz, eu combinei uma média de 15 a 20 fotos com os clientes. É mais ou menos um mínimo que eu prometo. Renderam 30, 40 fotos, eu entreguei tudo. Principalmente se for ensaio. Quanto mais foto, mais o meu cliente vai divulgar o meu trabalho. Mas eu acho que esse método de cobrança é útil pra quem ainda tá começando. Porque quem contrata um fotógrafo careiro, que seja o 'fodão' e tenha nome, é porque realmente faz questão do trabalho dele, e pagaria por fotos avulsas que ultrapassassem a quantidade das fotos combinadas.
Acho que o mesmo já não serve pro trabalho oferecido em massa (como o da sua formatura) por motivos óbvios.


Quando eu disse 'cobrar por clicks', não era pra ser interpretado ao pé da letra. Eu me refiro à situações, como por exemplo, eu ter te convidado pra fotografar o João Bustamante comigo, ou até mesmo o Daniel Pique, querendo ou não, é gente conhecida, e que futuramente vai me gerar mais e mais clientes. Tem gente que simplesmente não aceita esse tipo de situação. Não faz um ensaio de graça nem pra rechear o portfólio. É o que eu quero dizer por cobrar por clicks. Não usar nenhum deles como forma de investimento pro seu cartão de visita. Você precisa apresentar um trabalho, e eu acho que é passar a perna em alguém quando vc cobra por algo que nunca fez antes, ou que ainda não faz bem. E é aí que entra a questão da "não-competência".

E pra concluír. Eu tenho NECESSIDADE de fotografar, porque eu gosto do que faço. E enquanto não me chove trabalho, eu uso cobaias que fazem o bom uso das minhas fotos.