segunda-feira, 26 de março de 2012
sexta-feira, 9 de março de 2012
“Eu não ficaria surpreso se a Terra parasse de girar amanhã"
por Andréa Luiza Bucchile Faggion
"No final das contas, foi Will.I.am quem resumiu tudo que estou sentindo agora. Eu não sei se ele era louco, só que ele era minha loucura. Obviamente, nunca lidei bem com isso. Imagine só. Uma menina metidinha à besta, posando de intelectual, escondendo uma pasta com recortes de jornais. Assim eu era aos 14, 15 anos... Mas a coisa começou muito antes e a verdade é que sempre soube que nunca iria terminar. Minha mãe sempre me conta a mesma história. Como era impossível me tirar da frente da tv quando eu tinha 2 ou 3 aninhos e os clipes de Thriller iam chocando o mundo um a um, chocando quase tanto quanto a notícia de ontem. Particularmente, minha primeira lembrança é mais tardia. Eu cantarolava Bad no caminho para a escola primária. Disso lembro bem... Aí, um dia, quando eu estava pelos 12 ou 13, vi a notícia de que o clip de Black or White (BOW, para os íntimos) iria fazer sua estréia em rede mundial. O mundo ia parar, os brasileiros, diante do Fantástico. Estava na casa do meu avô com a família. Implorei para irmos logo embora para eu não correr o risco de perder a oportunidade de gravar o acontecimento.
Naquele tempo, eu acompanhava tudo pelos jornais impressos e revistas (eu tinha um acordo com a dona da banca, ela me deixava folhear todas as revistas e eu comprava todas em que ele aparecesse). Engraçado! As matérias eram sempre ofensivas. Nada desse endeusamento desenfreado com o qual vocês estão sendo bombardeados agora. Lembro bem de uma reportagem que tirava sarro do clip seguinte a BOW (falando nisso, ele odiava que a gente dissesse "clip"): Remember the Time. O tom não era só jocoso, era rancoroso. Eu tomei a ofensa como pessoal, sei lá por que diabos, mas dei de ombros e recortei a foto. Guardo até hoje. Foi uma das primeiras. Talvez a segunda. A primeira mesmo foi uma que guardei com a maior vergonha, e só por consideração à minha tia. Ela recortou do jornal e me entregou: "é dele que você tanto gosta, não?" Eu guardei dobradinha no porta-moedas da carteira. Coisa de adolescente boboca guardar foto de ídolo pop. Tenho-a até hoje: com as dezenas de marcas de dobras.
Naquela época, não existia internet (ele comemorou seu advento para se comunicar com os fãs). Coisa comum em casa era o grito: "Miiiichaaaeell"; vindo de alguém da sala. E lá vinha a Andrea trombando em todos os móveis para pular desesperada na frente da TV. Acabava a matéria, dane-se se falassem mal, eu dizia toda feliz: "eu vi ele, eu vi ele". É, com o erro assim mesmo, era assim que saía. Tinha virado a brincadeira da família (que parou para chorar junto comigo ontem).
Porém, um dia, vi no jornal que a tal da internet tinha um site com notícias dele. Era feito pelos fãs. MJIFC, não? Eu tinha acabado de comprar meu primeiro computador. Pedia para minha mãe entrar no site no trabalho e salvar as notícias em um disquete. Oh, coisa boa, pela primeira vez na vida, notícias sem ódio, sem malícia. Ato contínuo, comecei a graduação e podia usar os computadores do laboratório da universidade. Demorava um século para uma foto carregar. Eu salvava todas em disquetes. Não tenho mais como abrir disquetes. Guardo todos em caixinhas até hoje.
Mas eu pulei um pedaço da história. Entre os 12 e esses 17, eu comecei a encontrar a pessoa por trás da máscara, da fedora, do óculos, da luva... do artista. Cheguei no colégio um dia e fui presenteada por uma colega. Eram umas páginas arrancadas de uma revista que traduziam uma parte da auto-biografia dele (é, todo mundo que me conhece me presenteia com coisas assim). "O céu não tem que ser pintado de azul, o desenho não tem que estar no centro da folha de papel". Guardei essa frase até hoje. Precisava dizer alguma coisa a mais? Se precisava, ele disse no portão de casa, citando: "Minhas leis e as leis de Deus, vergonha a quem pensar mal disso".
Não existia convenção social para esse homem. Costumes, nada disso o afetava. Ele era uma aberração mesmo. A imprensa sempre teve razão. Só uma aberração conseguiria ser tão trágica e dolorosamente individual. Se não era uma lei de Deus (a lei moral, para ele), não há regra neste mundo que ele não tenha violado. Na verdade, nem se tratava de violar. Elas simplesmente não existiam para ele. Por isso, ele estava tão fora do alcance da nossa compreensão.
Olhar para ele era ter que encarar nossos limites. Por que somos como somos se não é necessário que o sejamos? Pois é, através dele é que descobríamos que não era necessário que o fossemos: "E se eu quiser colocar uma pinta aqui [ele dizia apontando para a testa], e se eu quiser um terceiro olho?" A gente teria que dizer: "É, você pode, eu é que não dou conta de tolerar isso". Isso é que doía tanto em tantos. Isso é que o fazia tão odiado. Daí que eu fui aprendendo a razão de ser de tanto ódio contido naqueles meus primeiros recortes. O executivo da gravadora ordenava que ele tirasse fotos com alguma super-modelo, ele posava abraçado com o Mickey Mouse na Disney! Esse era o Michael. O único verdadeiro subversivo do pop. Por isso, o Peter Pan do Pop.
Não é que ele tivesse um intelecto infantil, fizesse beicinho e birrinha sem motivo. Nunca tive notícia de nada nesse sentido. Ele pregava a inspiração nas crianças, ao mesmo tempo em que esclarecia que não estava dizendo para fazermos criancices. Ninguém entendia! A criança dele era meio que um bom selvagem: a pessoa que ainda não foi determinada por convenções que soarão como dogmas instransponíveis, quando o próprio mecanismo da socialização tiver sido encoberto para nossos olhos.
Ele era o Peter Pan. Nós, sua legião de fãs, os garotos perdidos. Liz Taylor, sua Wendy (e eu que achava que ele é quem sofreria a morte dela). No fundo, todo mundo sabia como a história terminaria. Peter não pode crescer. Os garotos perdidos têm que crescer. Eles se separam no final. Peter volta sem eles para Neverland. Mas a visita de Peter em nossa janela à noite, nossa temporada na Terra do Nunca... nada foi em vão. Nós ficamos, ele se foi, envelheceremos, ele não! Mas será que cresceremos mesmo? Mentira! Só guardaremos as aparências. Antes de partir, ele ensinou o essencial: "Neverland é um lugar na mente". Aquela que ele construiu na matéria era só um modelo sensível para a gente entender a idéia regulativa. A vida dele era também um modelo sensível dessa idéia regulativa. Agora a gente entendeu. A missão dele está cumprida. Podemos ficar para sempre na Terra do Nunca."
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Dias difíceis
O mesmo fato acontecendo consecutivas vezes, acaba o tornando inaceitável e inconsolável. Não falo nem pela situação e pelo desconforto, mas a gente acaba chegando a conclusões terríveis que jamais teríamos chegado se não tivéssemos crescido. Volta e meia na vida a gente deixe de acreditar em algo, e acreditar e sonhar são as coisas mais fantásticas que a mente pode nos proporcionar, já dizia Michael Jackson, esse é um privilégio das crianças. Quando a gente cresce, nossos problemas deixam de ser o dever de casa não feito e comer legumes no almoço.
A gente passa a deixar de acreditar em tudo que nossa infância construiu como sonho e perfeição. A gente deixa de acreditar incondicionalmente nas pessoas, a gente deixa de ouvir aquelas palavras bonitas como se fossem as maiores verdades no mundo. Os muitos amigos que tínhamos na escola, acabam se tornando 2 ou 3 grandes amigos, que deveriam estar em qualquer lugar, não só na escola. E essa parte é o que resta dos sonhos e crenças de quando éramos crianças. Mesmo sendo só esses 2 ou 3, uma hora você vai descobrir que esses poucos vão te decepcionar. Que você vai esperar demais por algo que só um ou outro desses fariam por você, um colo, um conselho sobre uma situação específica na qual essa pessoa sabia te confortar como ninguém. Uma coisa é fato nessa vida, a gente não deve esperar que ninguém faça o que a gente faria, que ninguém pense como a gente pensa, e que ninguém se importe como nos importamos. Muita gente não aprendeu isso, mas se importar vai muito além de perguntar "Como vai?" ou de simplesmente dizer que se importa. As pessoas não deveriam dizer o que esperamos ouvir, porque o que a gente espera ouvir é sempre óbvio, mas ouvir o que realmente a pessoa sente ou o que a pessoa quer dizer, as vezes nos surpreende muito mais, porque vem de dentro e é de verdade. Antes saber que alguém realmente não se importa, do que esperar algo de alguém que diz se importar, sempre.
Sou completamente conta sair da vida das pessoas, ou tirar pessoas da nossa vida. Acho um ato completamente egoísta e babaca. Mas talvez seja por pensamentos como esse que a vida é cheia de pessoas incógnitas, a gente nunca vai saber se é real, o que a gente realmente significa pra elas e se elas realmente estariam ali se não fosse a nossa insistência em manter uma relação por apostar nessa pessoa.
Falar de pessoas é difícil e muito injusto. Mas dias como esses me fizeram acreditar que se importar quase nunca vale a pena, e acreditar nas pessoas é sempre um motivo a mais pra gente cair depois. A melhor maneira da gente não se decepcionar, é não esperar nada de ninguém.
Crescer não é nada fácil